Digitalização torna mais grave a falta de qualificação

Ativo 1 14 fevereiro, 2023

Plano Nacional de Educação estipulou mínimo 25% de matriculas em EPT até 2024, mas país ainda mantém taxa de apenas 10%.

Uma das explicações para a baixa produtividade no Brasil é falta de mão de obra qualificada, problema que está ficando mais relevante em meio a necessidade de digitalização da economia, apontam os especialistas em educação.

O Plano Nacional de Educação, elaborado em 2014 com prazo determinado até 2024, estipulou a meta de aumentar para, no mínimo 25%, as matrículas nos ensinos fundamental e médio integradas à educação profissional, o que significava triplicar o acesso.

A taxa nacional ainda está em 10%, mas evidencia que os formuladores de políticas educacionais reconhecem a necessidade de se aproximar da realidade de países desenvolvidos. A média entre os 37 países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é de 38%. Na Alemanha, a taxa está acima de 40% e no Reino Unido ultrapassa 60%.

Para o conselheiro-executivo do Movimento Brasil Competitivo (MBC), Rogério Caiuby, o ensino técnico exerce impacto positivo em três aspectos principais: “É fundamental para a redução do custo Brasil, a digitalização da economia e redução do desemprego”.

O MBC calcula que lentidão na digitalização da economia brasileira gera custo de mais de R$ 123 bilhões ao ano para o setor produtivo. Uma das razões é falta de capacitação da mão de obra. “A baixa qualificação responde por mais de 10% desse custo Brasil. As empresas precisam treinar elas mesmas para ter um profissional minimamente preparado”, observa.

Para Caiuby, o principal problema não é a escassez de recursos direcionados à educação profissional e tecnológica. “Alguns aspectos precisam ser trabalhados, mas o orçamento público não é o primeiro deles. Temos que ressignificar o ensino técnico. Eliminar a ideia ultrapassada de que iniciar uma carreira técnica é limitador para a carreira no futuro”, diz. Ele defende que o Novo Ensino Médio elimine essa percepção e acelere as matrículas no segmento.

Fernando Alves, coordenador do grupo de trabalho de profissionalização da Agenda 227 e diretor executivo da Rede Cidadã, também acredita que o montante atual de recursos públicas para a educação profissional e tecnológica não é o maior problema. “Toda formação técnica precisa estar em sintonia com a necessidade do mercado de trabalho. É muito importante que o uso dos recursos atenda a demanda do mercado”.

A Agenda 227, movimento que defende a priorização de crianças e adolescentes nas políticas públicas, propõe em seu programa a ampliação da oferta de cursos nos institutos federais e a meta de que 20% dos alunos que passam pelo ensino médio cursem disciplinas técnicas pensadas localmente em parceria com o setor produtivo, modelo adotado no Centro Paula Souza, do governo de São Paulo.

Para que essa meta seja alcançada, porém, o secretário-executivo do Conif, Alexandre Bahia, reforça o seu argumento de que a recomposição orçamentária é fundamental.

Segundo ele, existem vários gargalos em setores como indústria têxtil, indústria química, de óleo e gás, de energias renováveis, e serviços e mais investir é importante para ampliar o acesso e melhorar as condições de ensino nas instituições. “Precisamos aumentar o número de vagas, melhorar a nossa qualidade, que é boa, mas precisamos de recursos para promover as atualizações de infraestrutura e tecnologia adaptadas às profissões do futuro”.

 

Fonte: Jornal Valor Econômico – 30 de janeiro de 2023.